Comunidade da Água WFES se reúne na capital dos Emirados Árabes Unidos para discutir escassez de recursos hídricos

Da redação, com Vatican News

A capital dos Emirados Árabes Unidos, Abu Dhabi, recebe o anual Congresso Internacional da Água, para discutir as questões relativas à escassez de recursos hídricos, particularmente no Oriente Médio. O problema que cada vez mais importante em muitas populações.

O Congresso de Abu Dhabi conta com a presença de 35 membros da Comunidade da Água WFES, uma plataforma essencial aos governos e empresas para encontrar as soluções possíveis para os problemas da seca. De modo geral, atualmente 2 bilhões e meio de pessoas não têm acesso à água. Na regiões onde há escassez, a água torna-se o centro das disputas, como entre os israelenses e palestinos e entre Israel e Líbano, assim como entre Índia e China.

As mudanças climáticas pioram a situação

Segundo as Nações Unidas, atualmente mais de 663 milhões de pessoas vivem sem água potável nas proximidades de casa e diariamente devem percorrer vários quilômetros ou ficar em longas filas para obtê-la. Uma situação dramática que associada às atuais mudanças climáticas tende a se agravar. Na África do Sul, por exemplo, há três anos não há chuvas suficientes e as reservas da capital são mínimas. Também na África, na região do Sahel, a faixa abaixo do deserto, 135 milhões de pessoas correm o risco de morrer pela falta de água e pelo aumento da temperatura. Calcula-se que de cada 11 pessoas no mundo, uma bebe água suja e que 52% das doenças têm como causa principal a água não potável.

Fatores que incorrem na disponibilidade de água

O engenheiro Nicola Lamaddalena, administrador do Centro de Estudos Agronômicos do Mediterrâneo, comenta que “a quantidade de água disponível está diminuindo cada vez mais por causa de numerosos fatores. Por exemplo o aumento demográfico: atualmente no mundo há 6,5 bilhões de habitantes e segundo a FAO em 2050 a população chegará a 9 bilhões de habitantes. Maior número de pessoas, maior necessidade hídrica. Se acrescentarmos a isso o crescente desenvolvimento agrícola industrial, mudanças climáticas, mudanças de hábitos alimentares das populações e a desertificação, certamente a escassez hídrica continuará a aumentar cada vez mais”.

O consumo de água para a produção de alimentos

Mas não é tudo; há também o enorme consumo de água para a pecuária para satisfazer o excessivo consumo por parte dos países mais ricos, comida que em grande quantidade é jogada no lixo. Uma recente pesquisa da FAO demonstra o quanto a escassez de água na agricultura representa em muitas zonas um sério problema para a produção alimentar, considerando que a agricultura é responsável por 70% do consumo mundial de água doce em nível mundial. Também deve ser recordada a estreita ligação entre deslocamento de inteiras populações e acesso à água, quase sempre obedecendo a interesses privados como os das multinacionais. Precisa-se de políticas mais sensatas e de longo prazo que considerem o ambiente.

A água e as questões de geopolítica

O acesso à água envolve também aspectos do tipo geopolítico “especialmente nos países – afirma Lamaddalena – onde as bacias hídricas são compartilhadas. Como por exemplo o caso dos rios Tigre e Eufrates que nascem na Turquia e atravessam o Egito, o Irã e o Iraque. Na Turquia já foram construídas várias represas que bloquearam o curso normal dos rios, por isso todas as regiões que recebiam o fluxo normal dos rios, que eram identificadas como lugares da cultura do pão, do trigo, etc., correm o risco de desaparecer. A mesma situação se verifica na Jordânia no rio Jordão: todo o conflito entre Israel e Palestina está também ligado ao problema da escassez hídrica. E infelizmente, apesar dessas experiências negativas, ainda se constroem represas como a da Etiópia no Rio Nilo que poderá criar conflitos impensáveis com os países que recebem as águas deste grande rio como Egito e o Sudão. No Egito a única fonte de reserva hídrica é o Nilo portanto, uma redução do fluxo de água causaria problemas para a sobrevivência de toda a população”.

O Papa: cuidar da água é essencial para a vida

O Papa Francisco falou várias vezes sobre a importância da água. Por ocasião do Dia Mundial da água em 2018 disse: “A água é o elemento mais essencial para a vida, o futuro da humanidade depende da nossa capacidade de defendê-la e compartilhá-la”. Para Francisco a água é um bem comum por excelência”. “Cuidar das fontes e bacias hídricas é um “imperativo urgente”, repetiu muitas vezes e dedicou a este tema a Mensagem para a Celebração do IV Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação do ano passado. “Proteger esse bem inestimável todos os dias – escrevia – representa hoje uma responsabilidade imperiosa, um desafio real”. E recomendou também que as águas não sejam sinal de separação mas de encontro.

Os apelos de Francisco para uma mudança

“A água é fundamental para a vida. Em muitas regiões do mundo, nossos irmãos e irmãs não podem ter uma vida digna devido à falta de acesso à água limpa. As dramáticas estatísticas da sede, sobretudo a situação de pessoas que adoecem e muitas vezes morrem por causa da água insalubre, é uma vergonha enorme para a humanidade do século XXI (…) As estatísticas sobre a sede exigem vontade e determinação, e todos os esforços institucionais, organizativos, educativos, tecnológicos e financeiros não podem faltar”.

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