UMA ESCOLA QUE CHORA A SAUDADE DOS SEUS ALUNOS

Em tempos de distanciamento social, isolamento, quarentena, as escolas, antes ambientes barulhentos, alegres pela presença de alunos e professores, hoje são apenas prédios silenciosos, sem vida, sem calor, tristes… Tomara que logo tudo isso passe!        

 

Eu passo por ti com o meu coração partido, porque vejo as lágrimas que caem dos teus muros. Vejo teus portões abraçados uns com outros, para sobreviverem à solidão dos gritos e brincadeiras dos meninos e meninas que estão demorando voltar.

Eu passo tão assustado por tua porta e tenho medo da diretora me convidar para entrar e ver teu silêncio triste que tuas paredes pintam. Passo apressado para não sucumbir às tuas lágrimas de saudade dos teus alunos e professores. Que escola é escola sem os gritos e sorrisos altos? Que escola é escola sem a correria, gritos e abraços? Que escola é escola sem o perfume do saber e do querer aprender mesmo na relutância dos alunos?

Eu passo agora por ti e tento não chorar quando vejo tuas lágrimas pedindo socorro, porque tua alma é alimentada de meninos e meninas que chegam cedo para alegria dos teus braços. E você só é forte por que eles vêm toda manhã. Surgem de muitos lugares e, ainda que saindo de uma casa triste, vêm felizes porque no teu colo o sorriso brota e a esperança destes se acendem toda manhã.

Ontem passei na porta da escola em que trabalho e, por alguns minutos, eu vi pelos olhos da saudade meus meninos e meninas chegando e aquela lembrança alegrou meu coração. Lembrei das brigas logo de cara e das reclamações. Menina isto é tamanho de saia? Você está indo para uma festa? Meu jovem isto é hora de chegar? Todo dia é esta mesma história? Entendi que escola é feita disso porque tudo isso é formação.

Sai dali rogando a Deus que tudo passe logo para que nossas escolas não morram de saudade e que, ao retornarem às aulas, as encontremos com alegria e cheias de calor para matar a saudade de cada aluno e cada professor.

Vi que o teu jardim não é mais o mesmo, porque até as flores acompanham tuas lágrimas e sentem saudade do calor dos alunos para crescerem mais alegre.

Vi tua cozinha com panelas tristes e pratos sufocados com falta dos sabores que alegram a vida, especialmente daqueles que têm nas refeições da escola o seu prato principal do dia.

Vi as vassouras no canto com suas palhas amarradas pelas teias de aranhas e gritando “voltem alunos para me libertar”.

Vi cadeiras gordas e entediadas porque já não carregam em seus ombros os futuros professores, médicos, advogados, enfermeiros… E agora, obesas, restam acalmar umas às outras com a esperança de que vocês, alunos, voltem logo.

Vi o porteiro olhando para o infinito tentando encontrar o sentido da solidão na escola e o porquê de a escola estar chorando tanto.

Baixei minha cabeça porque meus olhos cheios de lágrimas tentavam compreender a tua dor e pude entender por que teu choro tão alto dizia que sem os alunos você perdeu a razão de viver.

E você me dizia baixinho “eu estou com frio e minhas paredes ardem de saudade dos meus meninos e meu teto não compreende porque eles foram embora tão repentinamente e nem dizem quando vão voltar”.

“Eu queria receber pelo menos uma carta deles dizendo: ‘Minha escola querida, não chore, pois, em breve eu voltarei e nós voltaremos a ser a alegria que nos completa com parceiros da vida, como parceiros dos sonhos. Se acalme, eu te amo e logo logo eu vou voltar’”.

“Eu queria tanto receber uma carta deles porque sei que somente assim eu não deixaria a tristeza matar nosso jardim.

Descobri que eu não sou paredes, não sou cimento, pedra, madeira ou barro. Eu, escola, descobri que sou gente e não faço sentido sem gente. Meu coração é feito de gente e nas minhas veias correm os sangues mais nobres que o mundo tem. O sangue de aluno. O sangue da esperança.”

“Eu continuarei chorando pela saudade de cada um de vocês, mas com a certeza de que, em breve, nos veremos.

Não esqueçam de mim, pois, sem vocês eu não sobreviverei.

Estou com muita saudade. Quando passar na minha porta dê um toque com o teu dedo no meu muro, só para eu sentir o teu calor. Só o teu abraço fará acalmar as lágrimas que derramo agora.

Saudades de vocês. Da sua sempre parceira, ESCOLA”.

 

Premier Orlando Morais, in “Escola com Saudades”.

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