Produtor de leite não deve fazer investimentos ousados nos próximos meses

O cenário que se desenha é de preços em queda e custos de produção em alta

 

s produtores de leite se beneficiaram na primeira fase da pandemia da Covid-19, mas de agora em diante podem ser prejudicados, e é recomendável ter cautela nas decisões.

O cenário do mercado de lácteos foi favorável a partir de junho, com preços recuperando as margens perdidas no passado e uma demanda firme. Porém, a conjuntura mudou rapidamente a partir de outubro, e para pior, desenhando o seguinte cenário negativo:

Queda nos preços pagos aos produtores

O leite entregue em setembro a ser pago ao produtor em outubro tem cotação de queda. O Conseleite-RS indicou diminuição de 6,7%, o Conseleite-MG apontou recuo de 5,5% e a Mesa de Negociação de Goiás também projeta desvalorização de 4,4%.

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), registrou-se no mês de outubro uma diminuição de 7,8% nos preços da muçarela e de 10% no mercado spot.

Importações em alta

A outra variável negativa é o aumento 63% das importações de lácteos ocorridas no último trimestre junho-setembro comparando com o mesmo período em 2019, atingindo 54 mil toneladas.

Demanda

A pressão inflacionista recente sobre a renda da população e o fim do auxílio emergencial em dezembro devem diminuir a demanda por lácteos, especialmente por leite fluído, em pó e queijos populares.

Custos de produção elevados

Os preços dos concentrados alcançaram patamar recorde. A cotação do milho subiu 90% em um ano. Em Goiás, paguei R$ 48 por saca de ração-leite com 25% no mês de setembro de 2019 contra R$ 88 em setembro do corrente ano, ou seja, uma alta de 185%.

Outra preocupação decorre do aumento do custo de formação da silagem para o próximo ano, especialmente no item fertilizantes, influenciado pela alta do dólar na importação.

Perspectiva para os próximos meses

Do lado do consumo, a queda na demanda pode até não ser intensa porque a pandemia da Covid-19 incentivou o hábito de se consumir alimentos mais nutritivos e saudáveis e preparados em casa. Nos EUA, por exemplo, o consumo de leite fluído e de manteiga, que estavam em decréscimo, aumentaram substancialmente. Algo semelhante também ocorreu por aqui.

A captação de leite pode diminuir em decorrência de um custo de produção nas alturas, o que pode implicar em menor produtividade e maior descarte de vacas menos produtivas diante de preços atrativos da carne bovina. E as perspectivas para o milho são de preços altos sustentados pelas excessivas exportações e cotação elevada em Chicago.

Enfim, o cenário para os próximos meses é preocupante, indicando queda nos preços ao produtor e na demanda por lácteos, e custos elevados para 2021.

O que fazer?

A recomendação principal à maioria dos produtores de leite é ter cautela nos próximos meses. Salvo situações particulares, não é momento para investimentos nem iniciativas ousadas que elevem mais ainda os custos, e sim de ajuste nos principais componentes de alimentação, mesmo que implique em eventual diminuição no volume produzido.

A relação benefício-custo, que sempre norteia os investimentos, nesta conjuntura é mais importante ainda pois o nível de incertezas está alto, e não queremos ver colegas engrossando a fila dos que abandonaram a atividade.

 

(COM INFORMAÇÕES DO  BLOG DO BENEDITO ROSA)

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