Especialistas explicam os riscos de tomar metade do comprimido; entenda o que muda

Pela indisponibilidade da dose certa na farmácia ou pela tentativa de economizar e fazer o medicamento ‘render mais’, o hábito de cortar os comprimidos na metade pode gerar riscos à saúde, pois além de não garantir a mesma eficácia do princípio ativo nas duas partes, a prática também pode interferir no tratamento do paciente.

O professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP),  Leonardo Pereira, explica que “O medicamento é uma mistura do princípio ativo (substância responsável pelo efeito do remédio) com outros excipientes (ingredientes) farmacêuticos. Isso tudo é misturado e prensado. Por isso, não é possível garantir que a metade direita e a metade esquerda tenham a mesma quantidade”.

Em 2021, pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) chegaram a mesma conclusão após fazer testes com um medicamento utilizado para o tratamento da hipertensão cortado ao meio. O principal objetivo era analisar as consequências do corte. Após testar 750 pílulas, os autores do estudo identificaram uma série de discrepâncias nas partes divididas. O artigo que foi publicado na Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada cita que “A avaliação do processo de partição apresentou diferenças significativas na uniformidade de massa e de conteúdo, verificando-se que há grande variação de teor. Considerando que a hipertensão é uma doença grave e que requer esquema posológico rígido, variações na dosagem podem influenciar significativamente no tratamento do hipertenso”,

Outro risco que também pode acontecer com a divisão é a perda de recursos do medicamento. Pereira, que também é membro da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas, relembra que alguns remédios são revestidos por uma fina película protetora que evita que o comprimido sofra ação no estômago antes de ser absorvido no duodeno, a primeira parte do intestino, ou que possuam um mecanismo de liberação mais lenta no sangue. Ele explica que “Se cortar, estraga a tecnologia”.

Indicações

Embora seja uma prática contraindicada no geral, a divisão do comprimido pode ser recomendada em dois casos específicos: quando a orientação dos especialistas é que o paciente aumente a dose de um remédio de forma gradual e quando o paciente deve parar de tomar a medicação também de forma gradual, em um processo chamado de “desmame”. Neste caso, o tratamento não pode ser interrompido de forma repentina e, por isso, a quantidade de miligramas é reduzida lentamente.

A forma como as pessoas vão guardar a metade do remédio não ingerido também gera preocupação, pois a embalagem médica é pensada especificamente para cada tipo de medicamento.  O professor da FCFRP-USP cita: “Alguns comprimidos, por exemplo, não têm resistência à luz, por isso vêm em um blister completamente fechado. Há também o risco de contaminação na hora do corte”. Caso seja necessário cortar, o recomendado é guardar a metade restante na cartela rompida, dentro da embalagem original, para diminuir a interferência na ação do medicamento.

Com informações do Metrópoles

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