O evento realizado nesta terça-feira, 30, no auditório da Santa Casa reuniu especialistas, profissionais e estudantes
A Fundação Santa Casa realiza o primeiro Simpósio de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), que tem como objetivo capacitar profissionais e estudantes acerca do manejo das principais DTNs atendidas pela instituição. O evento teve a realização de palestras e relatos de casos, além da temática de um Painel Epidemiológico e Desafios no Pará, da Atenção à Saúde na prevenção e investigação epidemiológica da leishmaniose visceral e doença de chagas.
As DTNs ameaçam mais de 1,7 bilhão de pessoas que moram em comunidades mais pobres e marginalizadas do mundo. Causadas por uma variedade de patógenos, incluindo vírus, bactérias, parasitas, fungos e toxinas, esses agravos cegam, incapacitam e desfiguram as pessoas, tirando não somente sua saúde, mas também suas chances de permanecer na escola, de ganhar a vida ou mesmo de ser aceito pela família ou comunidade.
Hanseníase, dengue, leishmaniose, esquistossomose, raiva humana transmitida por cães, escabiose (sarna), doença de Chagas, parasitoses intestinais e tracoma são algumas das mais de 20 patologias presentes na região – onde também são conhecidas como doenças infecciosas negligenciadas.
São classificadas como enfermidades “negligenciadas” por estarem quase ausentes da agenda global de saúde, receberem pouco financiamento e serem associadas ao estigma e à exclusão social. Estas doenças acometem populações negligenciadas e perpetuam um ciclo de maus resultados educacionais e oportunidades profissionais limitadas.
Para Tamires Tupinambá, enfermeira, gerente do Núcleo de Vigilância da Fundação Santa Casa, o evento fortalece a importância de ter o conhecimento e o autoconhecimento sobre os diagnósticos. “A gente sabe que o nosso Pará é um estado extremamente propício a algumas doenças endêmicas e a gente focou naquilo que a Santa Casa notifica mais, que a gente mais interna, que é a leishmaniose visceral e a doença de chagas. Mas claro, que tem várias outras situações, mas nós focamos naquilo que nós mais notificamos mesmo, dentro do hospital”.
“A demanda é nessas duas (doença de chagas e leishmaniose visceral). Nós não somos referência, mas a gente atende. E como estamos no mês de janeiro, que é o mês das doenças negligenciadas, então nós estamos reforçando o tema e focando no que a Santa Casa mais notifica em relação a essas doenças. E esse simpósio é justamente para que a gente leve esse conhecimento, para que elas deixem de ser negligenciadas e seja dada atenção total no combate a essas doenças”, reforça Tamires.
Foto: DivulgaçãoAdriana Tapajós, enfermeira epidemiologista da Secretaria Estadual de Saúde do Pará (Sespa) diz que falar sobre doenças negligenciadas é sempre importante. “Quando a gente tem a oportunidade de falar sobre doenças como doenças de chagas, leishmaniose e outras, que são doenças de grande relevância para o nosso estado, a gente dá visibilidade, tanto para o corpo técnico de profissionais quanto para a sociedade, porque todos têm um papel muito importante no combate, na mobilização, no processo de vigilância dessas doenças. Então quando se tem eventos como esse, a gente, como representante da Sespa, sempre gosta de participar, porque vê a importância de se levar à informação, de fortalecer o processo educativo aos participantes”.
“A importância de toda a população ter o conhecimento, porque está num território vulnerável e a rede de assistência da saúde, precisa estar muito bem estruturada para receber esses casos. E juntos, a gente vai conseguir, cada vez mais, garantir uma assistência de qualidade e um processo educativo da população e a população participando junto com a saúde de todo o processo é um ganho para toda sociedade”, destaca Adriana.
Débora Onuma, médica infectologista da Santa Casa focou sua apresentação nos cuidados que a populção deve ter com pacientes acometidos por leishmaniose visceral e doença de chagas, além de fazer o alerta com o manuseio dos alimentos, por conta dos parasitas que causam essas doenças. “Esses insetos se abrigam em locações como as fontes de alimentos, no caso, os seres humanos. Eles podem ficar em toca de animais, casca de árvores, nas frestas das casas, buracos de parede, nas camas, colchões, baús etc”.
“No Pará, temos uma transmissão alta, que é a oral, por conta da ingestão de sucos. Mas também pode ocorrer através da transfusão sanguínea, transplante de órgãos. Também da mãe para o filho, por via placentária da mulher grávida e na manipulação de caça, ingestão de carne contaminada. E, acidentalmente, também em laboratórios”, explicou a médica.
Relevância – A data estabelecida no ano de 2021, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aumenta a visibilidade sobre 25 condições de saúde que afetam especialmente pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade, onde a segurança da água, o saneamento e o acesso aos cuidados de saúde são inadequados.
O Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas é assinalado todos os anos em 30 de janeiro. Para marcar a data deste ano, a OMS pede que líderes e comunidades de todo o mundo se unam e atuem para enfrentar as desigualdades que impulsionam esses males.
Foto: DivulgaçãoAlgumas doenças tropicais negligenciadas:
Doença de Chagas: Doença protozoária com risco de vida transmitida aos seres humanos através do contato com insetos vetores (triatomíneos), ingestão de alimentos contaminados, transfusões de sangue infectado, transmissão congênita, transplante de órgãos ou acidentes de laboratório.
Dengue e chikungunya: Duas condições virais propensas a surtos transmitidas por mosquitos que causam uma doença semelhante à gripe que pode estar associada a sintomas graves, dolorosos e incapacitantes e, no caso da dengue, pode causar choque, hemorragia e morte.
Leishmanioses: Um grupo de doenças protozoárias transmitidas pela picada de flebotomíneos fêmeas infectadas; a forma mais grave (visceral) ataca os órgãos internos e em sua forma mais prevalente (cutânea) causa úlceras na pele, cicatrizes desfigurantes e incapacidade.
Hanseníase: Doença complexa causada pela infecção por uma bactéria de crescimento lento, afetando principalmente a pele, nervos periféricos e olhos.
Filariose linfática (elefantíase): Infecção helmíntica transmitida por mosquitos e resultando em vermes adultos que habitam e se reproduzem no sistema linfático; está associada a inflamação dolorosa recorrente e aumento anormal dos membros e órgãos genitais.
Raiva: Doença viral evitável transmitida aos humanos por meio de mordidas de animais infectados, especialmente cães, que é invariavelmente fatal quando os sintomas se desenvolvem.
Escabiose e outras ectoparasitoses: Grupo de infestações da pele causadas por ácaros, pulgas ou piolhos; a sarna ocorre quando o ácaro da coceira humana se enterra na camada superior da pele onde vive e deposita seus ovos, causando coceira intensa.
Esquistossomose (bilharziose): Grupo de infecções por trematódeos adquiridas quando formas larvais liberadas por caramujos de água doce penetram na pele humana durante o contato com água infestada; A esquistossomose está tipicamente associada a patologias hepáticas e urogenitais.
Tracoma: Infecção bacteriana transmitida por contato direto com secreção ocular ou nasal infecciosa e associada a condições de vida e práticas de higiene inseguras; se não for tratada, causa opacidades irreversíveis da
Prevenção e controle: A prevenção e o controle das doenças relacionadas à pobreza requerem uma abordagem integrada, com ações multissetoriais, iniciativas combinadas e intervenções econômicas para reduzir o impacto negativo na saúde e no bem-estar social e econômico dos povos das Américas.