Taxas de mortalidade elevadas estão ligadas a desigualdades sociais
Em quase duas décadas, mais de 48 mil mortes foram provocadas pelo forte calor associado a doenças crônicas no Brasil.
Esse é o resultado de um estudo do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base em dados do Sistema Único de Saúde. A análise foi conduzida por pesquisadores da instituição com representantes da Fiocruz, Universidade de Brasília e Universidade de Lisboa.
Entre 2000 e 2018, as taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor foram maiores entre pessoas do sexo feminino, idosas, negras, pardas ou com níveis educacionais mais baixos.
Djacinto Monteiro, pesquisador da UFRJ, explica porque estes grupos são os mais vulneráveis.
O estudo também indica que o Brasil experimentou de 3 a 11 ondas de calor por ano na década de 2010, um aumento significativo em relação às 4 décadas anteriores, em que os episódios de altas temperaturas não ocorriam ou chegavam no máximo a 3.
A pesquisa mostra ainda que as taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor variam entre regiões geográficas do Brasil, vinculando-se às desigualdades sociais, incluindo a expectativa de vida.
Djacinto Monteiro acrescenta que tais resultados sugerem a existência de racismo ambiental.
O especialista aponta soluções para mitigar a situação, como elaboração de sistemas de alertas para ondas de calor, maior conscientização dos riscos pela população e preparação das cidades para as mudanças climáticas, com investimentos em infraestrutura, como áreas verdes e abrigos, maior preparação do sistema público de saúde e políticas públicas de enfrentamento às mudanças climáticas que considerem as desigualdades sociais do país.