Sertanejo é Preso em Caso Inédito de Fraude no Spotify

Sertanejo é preso por fraude no Spotify usando robôs para gerar milhões de streams falsos. Entenda o impacto no mercado musical.

Imagine uma fazenda onde, em vez de vacas e plantações, o que é cultivado são cliques e reproduções de músicas. Parece coisa de filme, mas esse cenário se tornou realidade no Brasil. Em dezembro de 2024, o Ministério Público descobriu, no Recife, uma “fazenda de streams”, usada para criar milhares de reproduções artificiais de músicas no Spotify. E o responsável por esse esquema foi preso, marcando o primeiro caso do tipo no país.

 

A Fazenda de Streams

Uma casa de luxo em Recife escondia uma operação tecnológica fraudulenta, que usava robôs para simular o comportamento de ouvintes reais no Spotify. Esses bots rodavam sem parar, gerando milhões de reproduções falsas e inflando artificialmente o desempenho de músicas. Essa operação fazia tudo parecer legítimo, como se milhares de pessoas estivessem escutando as faixas ao mesmo tempo, 24 horas por dia.

Essa “fazenda” pertencia ao sertanejo Ronaldo Torres de Souza, que tem mais de 30 anos de carreira. Ele nunca alcançou sucesso significativo, apesar de um breve momento de destaque com a música “Sexta-feira Sua Linda” em 2015. Agora, Ronaldo é acusado de roubo de músicas e fraude com perfis falsos no Spotify.

O Esquema por Trás da Fraude

O esquema envolvia o roubo de “guias” musicais — gravações preliminares enviadas por compositores a artistas para avaliação. Em vez de negociar com os compositores, Ronaldo publicava essas faixas em nome de falsos artistas sertanejos, cadastrados no Spotify com perfis e capas fabricados. Mais de 209 perfis falsos foram encontrados, contendo 444 músicas roubadas.

O impacto financeiro? Essas músicas falsas acumularam 28 milhões de reproduções, gerando cerca de R$ 332 mil em receitas. E não parou por aí. Investigações apontam que Ronaldo ainda avançou para o uso de músicas geradas por inteligência artificial.

Como os Compositores Foram Afetados

Os compositores cujas músicas foram roubadas viviam uma mistura de frustração e impotência. Muitos descreveram o sentimento de “ter sua criação invadida” e ver outra pessoa lucrar com o seu trabalho. Para eles, esse golpe foi um ataque direto ao coração da criatividade musical.

Além disso, o uso de bots levantou questões sobre como é quase impossível diferenciar sucessos legítimos de fraudes no streaming. Segundo especialistas, cerca de 10% das reproduções globais em serviços como o Spotify são de robôs, desviando cerca de US$ 2 bilhões por ano.

A Investigação e a Prisão

Ronaldo foi preso preventivamente em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, onde confessou os crimes. As autoridades apreenderam bens avaliados em R$ 2,3 milhões, incluindo carros e criptomoedas. O cantor admitiu tanto o roubo de músicas quanto a criação de perfis falsos para lucrar com os royalties.

 

Os crimes pelos quais ele é acusado incluem estelionato, falsa identidade e violação de direitos autorais, podendo levá-lo a até 10 anos de prisão. A amplitude do caso foi tamanha que o Ministério Público de Goiás ordenou a exclusão de mais de 100 perfis falsos do Spotify, todos vinculados a Ronaldo.

O Papel do Spotify e os Desafios

Quando questionado sobre como pretende combater esse tipo de fraude, o Spotify informou que depende dos provedores de conteúdo para verificar os direitos autorais. Apesar disso, novas medidas ainda parecem necessárias para lidar com a escala desse problema. A falta de fiscalização adequada torna o mercado vulnerável a golpes semelhantes.

Impacto no Mercado Musical

Esse caso já começou a assustar o mercado de streaming e a expor as falhas no controle de fraudes. Muitos acreditam que a prisão de Ronaldo e a repercussão do caso podem servir de alerta a outros envolvidos nesse tipo de crime. No entanto, há quem diga que as tentativas de burlar os algoritmos ainda vão persistir, apenas migrando para novas estratégias.

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